quarta-feira, 11 de abril de 2012

À segunda vista


“Então é isso?”, eu me perguntava, angustiada. Trabalhar, pagar contas, cumprir tarefas da rotina, torcer para ser promovida e ser chefe aos 40. É só isso?
Fui ficando triste. Achava que as coisas seriam diferentes. A vida não era ruim – tinha um bom trabalho, amor, amigos, saúde. Mas (e desculpe se soa mimado) não era aquilo que eu esperava. E me sentia perdida. Devia voltar para a faculdade? Viajar? Mudar de emprego?
Primeiro, tentei transformar as pequenas coisas: cortei o cabelo, troquei os móveis de lugar, fiz dança de salão. Conversei com muita gente. Li livros. Fui a um psiquiatra e a um psicólogo, fiz acupuntura, tomei antidepressivos, meu avô me benzeu. Não sabia de onde vinha a insatisfação, nem o que poderia fazer curá-la.
“Faça o que você ama” foi o conselho que mais recebi. Eu deveria encontrar minha maior paixão e investir nela. Só assim eu preencheria o vazio que me tomava.
Por um tempo acreditei nisso. E revirei minha vida procurando o que poderia ser essa paixão avassaladora. Gostar, eu gostava de muitas atividades. Mas, do jeito que as pessoas falavam, parecia que eu devia procurar outra coisa, que me atingiria como um raio e mudaria tudo.
Demorou para entender que eu não tinha que fazer o que amava. Tinha é que aprender a amar o que eu fazia.
A vida adulta é mesmo diferente do que imaginamos antes de chegar a ela. Tem muito mais obrigações para dar conta, e muito menos momentos espontâneos. De dez vontades que temos, com sorte dá para realizar um par delas – as outras ficam guardadas para quando der. De dez ideias geniais, terá sido sucesso se uma der certo.
Percebi que o que me faltava não era paixão, mas humildade. Eu não era tão especial assim. Nada seria só do meu jeito, no meu tempo. Precisava negociar e ceder, porque essa é a única maneira de fazer as coisas acontecer.
Sempre faltariam horas, sempre faltaria dinheiro. Era preciso aceitar que “bom” às vezes é o mais perto que chegaria da perfeição. Que ninguém faz só o que gosta. Que o mundo é injusto. E que é preciso fazer o que tem que ser feito – a única escolha é se será com boa ou má vontade.
Isso não torna a vida necessariamente triste – desde que a gente aprenda a amar o que tem a fazer. Como? Talvez lembrar o porquê ajude. Trabalho para dar conforto à minha família. Parei de fumar para ter filhos e vê-los crescer. Cozinho o jantar e faço a lição de casa com a minha filha todo santo dia porque quero que ela sinta que me importo. Escovo os dentes para evitar ir ao dentista.
Sendo muito sincera, há vários dias em que eu preferiria não fazer nada disso. Bem queria poder dizer que tudo o que faço é porque adoro demais. Não é. Mas aprendi a amar minhas responsabilidades para cumpri-las sem que me pesem. E, sabendo o porquê de fazer, me senti novamente preenchida de sentido e tranquilidade.
Essa crise me ensinou que a maior motivação da vida não é a paixão. É o dever. Bem menos romântica – não dá pra dizer “ah, eu nasci pra isso!” lavando louça. Mas nem por isso ela é menos recompensadora. Esse senso de realização imprescindível à felicidade – de que somos importantes e úteis, de que fazemos diferença, de que as pessoas contam conosco – nasce não (só) de feitos mirabolantes, mas das pequenas tarefas de cada dia. Que podem não despertar amor à primeira vista. Mas cuja soma dos resultados é o que nos faz amar a nossa própria vida.


Texto de Roberta Faria, editora-chefe da revista Sorria
www.revistasorria.com.br 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tanta história


Vivi a grande parte da minha vida em uma chácara que beirava a cidade, foi uma infância feliz.
E até hoje em alguns sonhos que se misturam a coisas atuais e passadas eles sempre acontecem naquele lugar, mais propriamente entre a minha casa e a da vó. 
Era uma chácara muito bonita com uma jaqueira frondosa que causava medo. Em dias de chuvas fortes parecia que iria cair em cima da casa da vó, mas tinha uma sombra amiga em dias quentes, onde eu e meus primos mais quantos amigos quiséssemos podiam brincar, e por aqui quase o ano todo é muito quente.
Eram duas casas em 1 alqueire talvez de espaço, fui muito feliz.
E por ter sido tão feliz , tenho muita saudade daquele lugar, que semana passada descobri não existir mais. Então notei como é estranho nos adaptarmos às mudanças, aos ciclos da vida e o tempo que tudo transforma, amadurece e às vezes apodrece.
Mudamos, minha vó faleceu , vendemos a chácara.  Alguém comprou  e virou um loteamento e agora já tem casas sendo construídas e até mesmo algumas pessoas morando em suas casas novinhas, tudo muito bonito. Famílias sendo constituídas.
Mas não para mim ainda que vi a casinha da minha vó e a minha ainda alugadas sei lá por quem em ruínas pelo tempo e a visão bonita que tinha não era exatamente aquela, parece bobo mas foi chocante.
Confesso, me emocionei, prefiro guardar as lembranças que ainda mantenho, passar por lá vai me causar um pouco de desconforto, esse desconforto da mudança meio que inevitável.
E aquilo tudo que fazia parte da minha história e do meu passado agora vai fazer parte da história e do passado de muita gente. 
Pensando bem  aquele lugar que me fez tão feliz vai servir pra muita gente ser feliz também.
Mas tenho pra mim que foi por lá que enterraram meu umbigo.

Desapegar é uma arte dos evoluídos.


Este texto é da minha grande amiga Inajara Conterato
@inahconterato

Obrigada Inah! 

domingo, 1 de abril de 2012

Desligue seu Iphone e registre suas canções

"Ao mesmo tempo em que nos preocupamos com o que a sociedade pensa, não nos preocupamos com a sociedade."


Visitar São Paulo continua sendo um choque pra quem não atravessa diariamente aquela multidão de moradores de rua. Esse é o outro lado da metrópole que encanta.
Cada morador de rua tem a sua história, o seu porquê. É só parar 10 minutos pra ouvir.
Na maioria das histórias sobram culpados e vilões, mas faltam herois.
Ver que o Brasil está bem na fita pela melhora no desenvolvimento econômico, é legal, mas nosso índice de desenvolvimento humano continua bêbado.
Eu sei que ter um Iphone me faz muito mais atraente que ter um blog.
Tá! Iphone não é passagem pro inferno. Exemplo disso são os americanos: 


compram de tudo, mas vá falar mal de um americano pros próprios!? Seja do Texas, da Califórnia, de onde for... existe o valor de olhar sobre o outro - construído com muita educação, claro.


Nos preocupamos tanto com o que os outros vão pensar, mas não nos preocupamos se os nordestinos - os outros - lá em São Paulo morrem de fome.


O brasileiro afetuoso é o mito mais xôxo, mais desapaixonado que já existiu.