quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Véspera de ano novo

É engraçado como alguns sentimentos surgem em nós.
Não sei se com você acontece isso mas, comigo é fatal: todos os anos, na véspera de ano novo, eu entro em depressão.
Sei que é estranho. Enquanto a maioria das pessoas estão correndo atrás de suas leitoas e trajes típicos de Umbanda, eu me sinto o cocô do Louro José.
Eu sempre quis ser mais feliz, aparentar euforia, aquela vibração que atrai e reluz, mas confesso que nunca cheguei a me convencer de como fazer isso.
O ano novo sempre vem carregado de renovações, expectativas, novidades e medos! Medo do fracasso! De não conseguir realizar ao menos metade dos nossos projetos deixados na folhinha da agenda, já toda rabiscada.
Ao fim do ano, é estranho como nos obrigam a deixar pra trás aquele castelinho que demoramos mais de 350 dias para construir, para nos conscientizar de que aquilo era bom pra gente e, no fim das contas, sem dó, ele precisará ser demolido para que o processo de busca comece novamente.
Eu luto contra essa destruição porque eu sei que vou sentir saudades de tudo aquilo que já mora em mim, de tudo que eu levei tempos para conhecer do meu jeito, devagar e pra sempre.
Eu sei o quanto amo minhas coisas, o quanto o frasco de certo perfume se encaixa perfeitamente na aspereza do meu dia-a-dia ou então o quanto aquele braço pertence ao céu da minha noite.
Não quero deixar nada pra trás sem que eu seja realmente obrigada. Não quero começar o primeiro dia do ano com a indigestão de uma noite mal comida, mal dormida, mal bebida, mal vivida.
Eu não preciso deixar pra trás coisas que não me pesam, que não me incomodam constantemente, porque até o que me incomoda vez em quando é bom ter ao lado. É como uma bússola para localizar nosso lugar no mundo: devemos estar para servir e em tudo, amar!
Até o que dá errado não precisamos deixar pra trás, desde que não nos pese demais. Nossa missão é caminhar e carregar conosco tudo e todos que quiserem se achegar e, são muitos, sinceros ou não. Mas até esses equivocados, nos trazem um tijolinho que seja, do que virou aquele castelão.
No fim das contas, quem passou por ali sabe da sua importância pra mim, pra si e pro mundo, esse mesmo mundo cruel de homenagens póstumas.
E quer saber mais? Eu me apaixono mas não aprisiono, mas também não os jogo fora, não dispenso como quem diz: ah ta, deixa aí! Eu quero pra mim toda essa felicidade que me cabe e não quero dividi-la com os egoísmos do mundo, os preconceitos, as convenções, muito menos com os ordinários e ordinárias!
Acho que precisamos olhar os maldosos com piedade e não com indiferença. Deixar pra trás não é bom, pois nem sempre quem sai na frente chega primeiro.
Como é difícil encarar um novo período, um ano, uma década ou uma bicicleta nova. Existe uma paixão pregressa, um amor envolvidos que nos tornam saudosos, quase bucólicos e neuróticos. Hoje em dia, a neurose é quase inevitável. Evite as pessoas e evite as neuroses.
Acho que somente a mudança das estações não me causa duras surpresas, talvez por serem delicadas, suaves e justamente necessárias para mim e para todos.
Essa festa de ano novo nem deveria existir, teríamos menos balas perdidas em Copacabana, menos mortes nas estradas, menos brigas em família, menos promessas mal cumpridas.
No dia 31 de dezembro, cada um deveria sentar em sua varanda, ao lado da pessoa amada, sentindo seu cheiro como se fosse a primeira vez e percebesse que depois dessa descoberta, tudo pôde ser deixado pra depois.
Pra quem aprendeu a odiar o que viveu, feliz ano novo. Novo mesmo.

Um dia, disse minha mãe: conhecimento é algo que ninguém nunca tomará de você.
Eu aprendi a amar.

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