terça-feira, 8 de junho de 2010

Brasil ridículo - brasileiros ridicularizados

Meu amigo ingênuo, trago a você uma notícia fresquinha de Nova York: você é um pato. Um marreco no vasto banhado das iniquidades de mercado. E, minha amiga ingênua, lamento dizer, mas você é uma pata. Uma inacreditável gansa no imenso lago das safadezas econômicas. Eu sou pato também. Como toda a minha família e a sua, e nossos amigos e vizinhos. Somos todos patos. Patos absolutos. Quac, quac. Cuém, Cuém.
Eis o ponto: nós pagamos mais caro por tudo nesse país. Por rigorosamente tudo. A começar pelo dinheiro antes de ele chegar na sua carteira. Nominalmente, seu salário é 10. Você coloca no bolso, efetivamente, por volta de 7. Mas seu empregador, se fizer tudo certinho, tira do bolso dele, no mínimo, 18. Ou seja: dos 18 que o empresário dedica ao seu funcionário no Brasil, 11 vão parar nos cofres do governo. Que, como você sabe e a história desse país nos mostra, ou desvia esses recursos ou os gasta muito mal, com uma taxa pífia de eficiência. Nós vivemos num lugar do planeta que se especializou em ter governantes, em todos os níveis, que são a um só tempo extremamente espertos e muitíssimo pouco inteligentes.
Confira comigo. O dólar está valendo quase o dobro do real. Então, de cara, só pela diferença cambial, um produto que custa 20 dinheiros locais de lá custaria efetivamente o dobro do que o mesmo produto que custa 20 dinheiros locais daqui. Só que, em tudo, conseguimos custar o dobro (na melhor das hipóteses!), mesmo com uma moeda que vale a metade. Pense em eletrônicos. Você compra por 500 dólares lá um notebook que custa 2 500 reais aqui. Pense em comida. Ninguém paga mais do que 15 dólares por uma pizza (gigante) nos Estados Unidos. Nós pagamos 50 reais por uma pizza (apenas grande) em São Paulo. Pense em roupas. Uma boa calça custa 100 dólares em Nova York. Num bom shopping aqui no Brasil, você não gastará menos de 300 reais na mesma pantalona. Pense em carros. Você compra um Audi ou uma BMW por lá em prestações fixas de 399 dólares – por volta de 600 reais ao mês. Aqui, você tem que desembolsar – à vista! – 150 000 reais se quiser merecer um cafezinho aguado na concessionária. E a lista não pára. Bens de consumo, bens duráveis, bens in natura, bens industrializados, bens nacionais, bens importados. Tudo por aqui é mais caro. E não vou nem levar essa comparação para a Argentina, porque aí o cenário é de causar uma revolta popular imediata aqui no Brasil. Em Buenos Aires, uma cidade com povo muito mais bem instruído e melhor alimentado do que a média dos brasileiros, tudo está custando assombrosamente quatro vezes menos do que aqui.

Como resultado, os salários americanos são muitas vezes menores do que os nossos, comparativamente. E o sujeito vive absolutamente melhor por lá do que o seu par por aqui. O salário de entrada no mundo corporativo americano varia entre 3 000 e 4 000 dólares mensais. Ganhar 60 000 dólares por ano, antes dos 30 anos, já é coisa para MBAs. Aqui no Brasil, para você ter o mesmo padrão de vida de um americano que ganha 5 000 dólares por mês você precisa ganhar 15 000 reais. Inclusive porque, além do assalto na fonte, você ainda tem que pagar por tudo o que o poder público não lhe provê: ensino particular, plano de saúde particular, plano de previdência particular, serviços de segurança particulares, serviços de transporte particulares etc. Mas isso já virou clichê. E não é desse clichê que estou falando. Estou falando da covardia que lhe é impetrada por aqui toda vez que você vai às compras – o que também já está virando clichê e deixando de nos indignar, infelizmente.
Quer que um americano ou um europeu morra de rir da minha cara? Conte para ele que ontem eu paguei 18 reais – mais ou menos 10 dólares – por 1h30 num estacionamento qualquer da zona oeste de São Paulo. Nem em Manhattan, nem no centro de Paris, nem em downtown London, meu amigo gansolina e minha amiga patachoca. Quac. Cuém.

terça-feira, 8 de junho de 2010 - 8:26 (Revista Exame)

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