terça-feira, 3 de agosto de 2010

Era uma vez...

A partir duma brincadeira, começamos a olhar aquelas fotos antigas, de quando as irmãs eram bebês e os pais, o que somos hoje.
Eu não fui a criança mais bonita, nem a mais dedicada, a mais obediente, a de caligrafia bonitinha.
Entre uma piada e outra, eu notava um homem de semblante aborrecido em todas as fotos.
Não sei porque onde todos sorriam, ele parecia tão triste, tão distante daquele mundo.
Era uma época de vacas gordas, de famílias cheias de filhos bem tratados, de educação pública de qualidade, de segurança pública sem sátiras.
Então o que incomodava tanto aquele homem mal humorado?
Era o que estava dentro dele, não fora.
Eram perguntas que ele só poderia responder, sozinho. No máximo, com a ajuda do tempo.
Aquele homem, mesmo distante, me fez conhecer coisas tão boas que ironicamente, terei de agradecer pelo resto da vida.
Eu aprendi sobre o valor do amor, sobre o que as pessoas podem fazer de lindo pelas outras, quando primeiro fazem a si mesmas. A encontrar na “beleza” dos outros, motivos para amar, se amar e ser amada.
E se o tempo tivesse feito aquele homem mudar seu caminho? Será que eu teria outro caráter? Torceria pra outro time? Teria outra profissão?
Dediquei anos de minha vida a pensar nisso e hoje, posso dizer convicta qual foi minha conclusão: nenhuma!
Porque jamais eu aceitaria colocar o destino da minha vida nas mãos de alguém.
Jamais eu deixaria de optar por ler teorias sobre o existencialismo que nos fala da responsabilidade de sermos tristes ou alegres. Por isso, nem todos riem da mesma piada.
Uma amiga minha, quando se pegava gargalhando das bobeiras que a gente falava, dizia: “ai Ale, a gente se contenta e é feliz com tão pouco”, num tom de deboche saudável.
Eu torço pra que aquele, esse homem, encontre valor dentro de si e perceba que poderia ter sido merecedor de uma vida digna, rodeada de pessoas amigas, de sentimentos féis, de domingos deliciosamente irritantes.
Sem querer, ele acertou comigo, tenho orgulho de quem sou hoje, mais orgulho ainda, de quem me ajudou a enxergar isso.
Por essas e outras que não conto aqui, ainda acredito que a família é a coisa mais preciosa que podemos ter. Seja branca, negra, amarela, azul, magra, gorda, punk, evangélica... o jeito que nascemos e morremos é igual pra todos, o que se faz no meio do caminho que importa.
Eu não tenho medo da morte (da incompreensão dela), tenho medo de não estar atenta pra receber de surpresa uma visita querida, isso me preocupa, por isso eu tento oferecer flores aos que amo, todos os dias.
Isso eu aprendi com aquele homem (e agradeço): cada um dá o que tem.

Outro: DOCE COM SALGADO LÊ? COMBINA?
Eu: COMBINA SIM. AH, TEM CHOCOLATE MEIO AMARGO DE SOBREMESA. 


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