sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A geração avatar

Por Cristiane M. Rego



Abram alas que lá vem ela, a geração avatar.
Não sabe quem é? Pois então vamos lá.
Ela não tem cara, tem nickname.
Não tem sobrenome, tem arroba.
Vida ao vivo? Só do meu smartphone, em tempo real.
A cada segundo, ou melhor, tweet, começa o show da geração que se priva de viver, mas vive para expor o privado, a vida que “avatariza” ter.
A geração avatar, vem de um reino paralelo. Colorido, compulsivo, instantâneo, hora deprimido, hora esfuziante, mas ainda assim, um reino de faz-de-conta.
O faz de conta que sou de verdade, faz de conta que sou hype, faz de conta que sou o mais informado, o descolado, faz de conta que minha vida é imperdível. “Me siga!”
Aliás, antes do surgimento desse reino, as pessoas tinham sobrenome. Obsoleto pra você? Pois é, mas elas tinham! Acredita que já houve um tempo em que arroba era apenas uma medida? Bom, deixa para lá.
Professor também tinha sobrenome, e o mestre, esse ser pertencente à geração que lia - não, não me refiro aos tweets - certa vez tascou um tema no ar... Gandhi. Eis que soa em um canto qualquer da sala: “Queeeeeem?” Ah, mas tudo bem, o que me importa? Eu “sigo” @ Sandy!
Na geração avatar não existe ninguém feio.
Na geração avatar damos  unfollow e pronto! Desapareço com o que me desgasta. Afinal, a geração avatar não tem problemas, está mais preocupada com os TT’s e os comenta com hashtags.
A geração avatar não faz amigos, ela aderiu ao FF’s.
A geração avatar não se inspira, dá RT’s.
Na geração avatar não existe brincadeira de mau gosto, existe “viral”. Ah, mas viral é engraçado, afinal, também foi para isso que parcelei meu celular com câmera.
Divagaria muito mais sobre essa geração, mas fica para a próxima, agora não posso,  minha internet está “baleiando”.
  

Nota de rodapé:
 Avatarizar” – termo cunhado por mim, para designar um mundo/cotidiano inventado. A máscara usada para me fazer “digerível” e interessante na internet. Usado geralmente por indivíduos que parecem descontentes com seu “eu” real e portanto,  se recriam como personagens no mundo virtual, daí o motivo do termo, oriundo de avatar.
“baleiar” – verbo criado a partir das sucessivas vezes em que o Twitter saía do ar e no lugar aparecia a imagem de uma baleia. Sinônimo aproximado de “sair do ar”.

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